Cronológica

Eu vi quando a cobra falou,

E tirou ao homem do prumo;

Até, o pé na bunda que levou,

E sua vida de mim se privou,

Só o bagaço onde havia sumo...

Vi também Noé fazer sua Arca,

Tendo ouvido a ordem de Deus;

Ridicularizaram a imensa barca,

Enquanto laborava o patriarca,

Ante feras ímpias de olhos breus...

Vi o idioma fracionado em Babel,

O mega motim feito por Ninrode;

Extrapolando ao humano papel,

Deus acionou o Seu “Control del”

Fácil pra o Santo, que tudo pode...

Vi a dureza da escravidão no Egito,

Coisa que pouco humano suporta;

e as pragas desfazendo o conflito,

após, o Êxodo célere do povo aflito,

Vi o Mar Vermelho abrindo a porta...

Vi o Carpinteiro que sabe fazer vida,

Sofrer a dolorosa afronta da Cruz;

A ímpia face recusando ser movida,

mais sujeira, buscada como saída,

Sim, sou testemunha ocular de Jesus...

Vi dois milênios mais, de hipocrisia,

De rótulos nobres em produtos vis;

Não duvidem, vivo ainda nesse dia,

e jogam sobre mim tanta fantasia,

pra esconder, que vontade não quis...

Quem sou, se pareço ser incomum,

E vi tanto, que tão poucos veem;

Deveras, sou simples, bem comum,

Pródigo, me dou a qualquer um,

Embora, digam, que não me têm...

Sou bem, caro, que se joga ao vento

faltarei em breve não sois os donos;

sou o revide de cada investimento,

a quem, ignora, prazer, sou o Tempo,

para você, para os gregos, sou Cronos...