Vinagre

A punção das perenes amarguras da vida,

Extrai de nossas almas, a melhor doçura;

Claro que, depende da índole, da guarida,

alguns, só acrescem amargo à amargura...

Acho, foi Cícero que abriu a senda escura,

Mas, se errar no Santo, acerto no milagre;

Homens bons, como vinho, o tempo apura,

Outros, o mesmo tempo, verte em vinagre...

Assim sendo, e acredito mesmo que seja,

Contra alvos errados alçamos a nossa voz;

Quebra o espelho quem a outro dardeja,

Sendo que, o vero mal, está dentro de nós...

Mas, não advogo, a inocência dos crápulas,

Tampouco elevo certos biltres para a escol;

se de sangre e escuro carecem tais Dráculas,

guardo o pescoço e abro as janelas pro sol...

Tentarei fazer boiar o que é muito profundo,

essência a despeito do apreço, vaia, palmas;

não são bênção, em si, maldades do mundo,

só ferros que puxamos pra robustecer almas...

Os piores de meu país são agora os melhores,

digo, de pior caráter co’as chaves do casebre;

se foram os servos que escolheram senhores,

urge que entendamos as causas de nossa febre...

Mas, a contínua promoção da faceta tacanha,

Perverte até índoles, a carga resulta mui pesada;

Eu já deveria ser um tinto Saboroso da Espanha,

E começo achar que só sirvo mesmo pra salada...