Dou-te esta prosa quase verso
Dou-te esta prosa quase verso
em palavras verticais
rasgadas nos olhares do sol;
aparto, da gramática, as paredes vazias
que ocultam o germinar de vozes famintas
por rasgar o ventre das pedras
e do seu interior fazer parir o sol
com que desenharei as letras do poema
neste caminho por construir
São as palavras vertidas nos versos
da minha loucura...
ausento-me do cansaço dos gestos,
por vezes caio na descrença das palavras
com que folheio os vagos instantes
dos insensatos dias vazios e crus
que marcaram desejos vãos no calendário do tempo
Caminho na orla do silêncio...
o tempo dos sonhos refugia-se
nos gritos agónicos da ausência
onde se acendem fulgores secretos,
porque após a morte e a ausência
também há vida
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Alvaro Giesta in Um Arbusto no Olhar (Calçada das Letras, 2014)=