Depuração

A vida, e a dura regra do seu jogo,

Aceitar dói menos, remove mágoa;

Arrosta nosso devaneio demagogo,

Quando se põe a purificar por fogo,

O que não pode ser puro na água...

Hígida por viva, não, por capricho,

Expõe nosso vinho, remove rolhas;

Os maus instintos do humano bicho,

Nos levam, às vezes, a escolher lixo,

Ela precisa reciclar nossas escolhas...

Claro, não força, traz consequências,

Pra ver se amansa, o bruto indômito;

Tanto pode crescer, à essas vivências,

Quanto, seguir avessas preferências,

Pois, há cães que retornam ao vômito...

Dizem que o gato escaldado aprende,

Mas, gatos são sábios, não, humanos;

Em vão luz da sapiência se nos acende,

E nem sempre o que a cabeça entende,

Prevalece ante os clamores do engano...

Acontece que nossa obstinação é dura,

E abrandá-la é mesmo, Divino milagre;

Cícero o romano, teria feito boa leitura,

Somos como vinho, uns o tempo apura,

E, outros azedam, se tornando vinagre...

Aí, sem combustível a chama não arde,

De derrotas se disfarçam certas vitórias,

E quem sofre a aflição sem ser covarde,

Descobrirá agradecido logo mais tarde,

Que era Deus separando-o das escórias...