DIA DA TERRA

Haverá um dia,

não se sabe em qual era,

em que todo dia será dia da terra.

Sim tal dia chegará!

E então se saberá

que toda a geografia outrora encontrada

nas paisagens (des)humanizadas

amargará situação difícil

já que sua tez, seio, ventre, superfícies

se encontram abalados, afetados, talvez arruinados

face a tantos extermínios e vícios...

E então se indagará:

para onde foram arrebatados

as plantas e animais

que aqui haviam e não são vistos mais?

Para onde terá ido

o ar d’antes puro, agora desaparecido,

cuja ausência nos impõe apuros,

deixando-nos adoecidos?

Por onde será que se enterraram

tantas fontes d’água utilizadas à vontade

por campos e cidades,

que agora se envenenaram, se sepultaram

ou então secaram?

Porquê será que, como por encanto,

por todo canto onde os homens plantavam

os solos férteis se escassearam?

Será que toda a terra por onde se anda

virou decerto apenas um regaço

onde grassa um grande deserto?

Ou será que antes, então,

se inventará outra era seminal:

onde os homens afinal

não ficarão à espera

da destruição total?...

Será que um dia,

diante de tudo isso,

os homens assumirão o compromisso

de lutar pela vida que resta perdida,

na face da terra?...

Será que demorará a se ver

que a geografia do mundo só mudará

quando os homens abraçarem o pendor

de darem afeto, cuidados e amor

todos os dias a fio, em todas as eras,

aos espaços doentios que hoje encerram

a vida na terra?...

(Luiz Carlos Flávio)