Introspecção

E assim quando ela parte

mergulho nas águas desta solidão tão escura

uma pátria somente minha onde me vejo

e repenso

alojando-me entre o real e o irreal

entre o ser e não ser

para não ter de sentir o mais terrível

sentido da vida

E assim

Quando ela parte

tudo em mim se apaga como um facho

derrama-se o sangue da minha voz

nas

paredes

desta página

brancamente feroz

murmurando a mim mesmo

entre as páginas do meu inevitável desassossego

o grito que me prende à angustia da sua ausência

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Tudo em mim ascende como na morte

tudo de mim se levanta e corre

pelos campos de uma antiga e não realizada infância

Verde sorrio e alegre me deito

para condensar este sentimento despertante

nas lentas palavras do suave vento

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E onde paira então essa face

quando o meu corpo desce do Sol

para ser homem e mortal

novamente?

Por onde os caminhos à Lua se encontram

quando a noite é fria e o negro se encobre?

Que ouço então dizer

na voz parada de uma visão

intocável

sem rumo

ou traço?

E afinal

de que falo tanto eu

quando de nada falo?

Não posso dizer.....

Porque então a minha cabeça se acende milagrosamente

desfazendo-se depois no fogo

que me ocorre

e mata

Não tenho como escrever numa só caligrafia

as incompletas e informuladas realizações

do constante incêndio da minha

voz

Henrique António
Enviado por Henrique António em 27/05/2016
Código do texto: T5648927
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