CLÁSSICOS
Os clássicos invocam essências
que volta e meia ressuscitam
e nos afetam
como as palavras ditas pelos profetas...
Os clássicos suscitam em si
forças vivas, redivivas, dialéticas...
Por isso, sempre de novo florescem
e um novo devir apetecem...
Por vezes até morrem...
Mas, como fantasmas,
não querem ir embora...
Parecem sementes que,
no fundo do chão enterradas,
amiúde se desenterram
e, com compulsão, se renovam.
Teimam em eclodir, em explodir
e, vindo à tona, sair da cova
criando asas, virando árvores
para dar folhas, flores, sombras
e frutos novos...
Embora pareçam coisas ultrapassadas,
superadas, sepultadas,
como os homens das cavernas,
os clássicos sempre recriam forças e pernas
que resistem, renascem,
como se fossem eternas...
Ou, ainda, têm parecença
com as essências
que volta e meia se revelam
em um passado enterrado
mas cujas forças sempiternas
constantemente nos governam!...
Assim, evocam a latência
de essências mortas na aparência
mas que se fazem
forças vivas, redivivas...
Os clássicos, por fim,
parecem não ter fim...
Pois se sepultados,
falam, gritam
até serem exumados, resgatados
para virarem eternos esteios
dos espaços e tempos
em que pretéritos e presentes
insistem eternamente
em viver com a gente...
(Luiz Carlos Flávio)