DIALÉTICA IN NATURA
Poesia de boa finura
é sempre belezura pura!...
Poesia assim apura
que o mundo é uma mistura:
é dialética in natura...
Poesia é cultura
de um mundo em tessitura
em que tudo o que se afigura
tem frouxuras e coisas duras.
Poesia boa apura
naturezas em mistura
de estruturas e conjunturas
onde embatem-se enduros
de canduras e diabruras!
Tal dialética in natura
me permite uma conjectura:
duvido existir figura
que me aponte algo que ature
ou que no mundo muito dure...
A natureza é a mistura
de uma complexa costura
onde homens, coisas, criaturas
são frutos da compostura
de delícias e agruras!...
O mundo é policultura
é indústria, extrativismo, agricultura
em constante arquitetura...
Tal dialética in natura
Contempla complexas pinturas:
de solturas e ditaduras,
de baixuras e alturas,
estreituras e larguras
de ideias e estruturas
que pela vida se apuram...
A natureza, in natura
é tempo em desenvoltura:
uma hora as coisas se acuram,
outras horas, elas furam.
A vida é essa danura
de venturas e desventuras
rasgaduras e gasturas,
mas também as bordaduras
mas também contém soturas...
Sendo o mundo essa mistura,
uma dialética in natura,
o que existe, pouco dura...
Pois a vida é conjuntura
de junção e ruptura...
O mundo exige, no duro,
de todos nós boa leitura
das experiências e culturas
contemplando as múltiplas figuras
de povos e literaturas.
Com gingado de cintura,
tecemos boas leituras,
ganhamos musculatura
para encararmos a tontura
nas horas de vagas duras...
Tecendo boa leitura
da dialética in natura
do mundo que se configura
em melhoras ou desfiguras,
construiremos uma postura
de visão bem mais segura
que nos afaste, nos empurre
para longe das ditaduras
e das tristes sepulturas...
(Luiz Carlos Flávio)