poema que habita
poema que não habita o grito
mesmo que em silêncio
nunca será ouvido
poema que não habita bares com conversas regadas a batatas murchas e cervejas chocas
mesmo que em bibliotecas particulares
nunca será declamado por bêbados ao fim da noite
poema que não habita a rua
mesmo pichado nas paredes brancas de um prédio público
nunca estará presente nas palavras de ordem de um revolucionário
poema que não habita o outro
mesmo escrito sob corpos suados do pós sexo
nunca se arreganhará diante de um livro aberto
poema que não habita a palavra
que não habita o poeta
que não habita os olhos alheios
mesmo com vários prêmios e aclamações públicas
nunca (em hipótese alguma) será tido
como cria da poesia