A ÁGUA E EU...

Quando a água,

em correnteza,

sobre mim se abateu,

então minha natureza

algo se converteu:

quando eu n’água mergulhei,

n’água fria eu me tornei.

Foi então que degustei

esta particular magia

de me tornar, em certa ótica,

numa geografia “aquabiótica”.

Pois por inteiro

a água me tomou, sorveu, escondeu...

E quando dela saí,

era eu outro ser que estava ali:

transformado, metamorfoseado.

Um ser vivo mais ativo,

que parecia ter virado água...

Mas isso também transpareceu:

se a água me envolveu

e fez todo o meu eu

à sua imagem parecer,

em alegoria, também a água

algo em mim se converteu.

Pois se algo de mim tomou

de cansaço, energia

esse algo virou seu...

E, enquanto água eu parecia,

a água em mim se reverteu:

pois também tornou-se algo

do que antes era eu...

(Luiz Carlos Flávio)