encaixe

Não há santo que jamais se queixe,

que invés de carências, tenha sobra;

pedir muita luz e ganhar só um feixe,

e com tal parcimônia fazer sua obra;

ter rogado ao fado por um lindo peixe,

recebido contrariado, uma rude cobra...

Claro, essas decepções testam o sentir,

afinal, dão um pé na bunda do anseio;

quiçá obram pra nossa têmpera medir,

como estudo dedicado antes do recreio;

ainda, pode ser que não sabemos pedir,

ou, tempo de ser bendito, inda não veio...

Resta encarar firme, o que, pra hoje tem,

se, é a roupa nova do imperador pelado;

pois, mesmo ruim a sina inda há um bem,

que permite a gente lançar mão ao arado,

e, a ventura esperada é quimera, não vem,

com o que veio, traço meu dia, resignado...

Afinal, vida é dura quando a fibra é parca,

ao brio do lutador, que a dureza se afaste,

pois, ventura inesperada às vezes embarca,

quiçá apenas para acentuar um contraste,

e o anseio chutado ressurge sem a marca,

quando encaixam, enfim, pedra e engaste...