De como partirei – um pressentimento

O abafado desta sala se confunde com o gosto amargo e fraco do café.

Meu corpo leve ainda jovem se arremessa à frente, permaneço de pé.

Porque a lua lá fora mudou sem anunciar. E eu mudei até o meu olhar.

Embora eu retorne às vezes riso menina, sol que persiste em brilhar.

Eu tive um pressentimento, daqueles incertos e mesclados ao desejo.

Pressentimento de como será meu fim. Na verdade, eu sempre soube,

De certa forma. E isso é um defeito. Pois esse orgulho que me coube,

Grita alto pelo controle. Nem tudo controlo, nem mesmo o que vejo.

E não, não é tristeza, não mesmo. Nem depressão, nem mesmo medo.

Sim. Pode ser um pouco de medo. Quando o medo fica forte, imenso,

Então ele se transforma e vira desejo! Vou partir por minha conta, sei.

Partirei premeditado, organizado e ainda não me convenci se

despedido.

Será lindo. Daí então quem sabe todas as dívidas perdoadas, pagas.

Quem sabe restando apenas lembrança do sorriso, dos olhos claros,

Eu retorne então de onde estive. Mais livre mais serena e em vida!

Porque eu já parti mil vezes, de mim, do mundo, das horas sempre

vagas.

Parti a cada fim a mim lançado, cada não, cada sim presente em nós.

E como um recomeço lindo e singelo estou aqui, com a xicara na mão,

Os olhos inchados, voz na memoria, sorrisos, lágrima e até confusão.

Nesta sala abafada que amo, a luz que entra pela fresta aquece a

imensidão.

03/08/2016

Camila Cabral
Enviado por Camila Cabral em 03/08/2016
Reeditado em 03/08/2016
Código do texto: T5717541
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