EU E MEU AMIGO CEGO

EU E MEU AMIGO CEGO

Carlos JotaPê Figueiredo

Sentei com um amigo cego

e perguntei: “-És feliz?”

Ele respondeu:”-Não nego

que as vezes choro”... então quis

que eu ouvisse um pouco mais

sobre as tristezas que traz.

Falou então: “- Fico triste

quando ’sinto’ a falsidade

que nas pessoas existe

escondida, se a verdade

muitas vezes declarada,

é mentira descarada”.

Pediu-me que eu desculpasse

sua modéstia pequena

e que eu considerasse

com paciência serena,

que as coisas que um cego ‘sente’

não se encontra em toda gente.

‘Sente’ se um ‘benfeitor’ é

um avarento enrustido;

‘Sente’ se um crente tem fé

ou não passa de um fingido;

‘Sente’ se um ‘sim’ é um ‘não’

guardado no coração.

Me disse então: “Eu não nego

algo que não é tolice:

é a condição de ser cego

e não ver tanta sandice...

Restrito em minha cegueira,

não cometo tanta asneira”.

Despedi-me do amiguinho

com o meu fraterno abraço...

e fui saindo de mansinho

como quase sempre faço.

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Carlos JotaPê Figueiredo
Enviado por Carlos JotaPê Figueiredo em 03/11/2016
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