PENSAMENTO E POESIA

Gosto das palavras bem pronunciadas.

Não suporto ver um douto comendo as letras,

engolindo os pontos e as vírgulas.

Me chamam de orgulhoso

porque não gosto de me humilhar aos homens.

Aprendi a humilhar-me somente diante de meu Deus.

No dia em que eu não posso alimentar meus sonhos,

sinto-me um ser inútil.

Sonhar para mim é um ato de sobrevivência,

porque sonhar gera esperança e esperança gera vida.

A cada dia que passa contemplo no espelho a velhice chegando,

mas isto não me desanima; porque ela, certamente,

me trará mais sabedoria.

A morte? Vejo a morte como uma amiga que desejo

morando sempre distante e, só de vez em quando,

mandando lembranças...

Vejo a morte como o fim de todas as decepções,

com nós mesmos e com os outros,

e como a libertação das inumeráveis ingratidões humanas.

Entretanto morrer só é viver, quando morremos com Cristo.

Morrer com Cristo é ganho — como disse o apóstulo Paulo.

O ruim da morte é que, na maioria das vezes,

ela não manda telegrama.

Se eu mandasse na morte eu só morreria

daqui há cem anos. Sim! Daqui há cem anos

eu morreria, talvez, 90%...

Porque nenhum poeta morre, completamente,

enquanto a sua poesia resiste.