Haja (10-01-2017)

Não adianta

Que eu me irrite com o mundo

E na minha raiva

Eu mate um rato

Ou mate uma planta

Pois no outro dia

O ódio se dissipa

Mas o rato está morto

Para sempre

E a planta estará arrancada

E sem semente nem frutos

Para toda a eternidade

Não adianta

Que eu grite

E eu me estripe e berre

E me amargure irremediavelmente

Até o fim da minha inocência

Pois o sol amanhecerá

E o dia de amanhã

Será exatamente igual

Ao dia de hoje

Para a maioria das pessoas

Que coexistem comigo

Nesse momento de existência

Profunda ou vã

Elas estão comigo

Com o mesmo destino

E o mesmo caminho

Não há esperança

Além da esperança

De um dia ter esperança

E por isso espero

Tudo bem, não haverá muita coisa

Mas o que quer que houver, haja

E o que quer que eu toque

Que seja profundo e verdadeiro

Essa é a real eficácia e é tudo

Que eu posso fazer

Enquanto pessoa única

E tudo bem é preciso aceitar

Que sou uma pessoa única

E tudo o mais é apenas intangível

Além dos meus braços e minha fala

Ainda sim abraço e falo

Na esperança novamente vã

Das fagulhas atiçarem o fogo

David Ceccon
Enviado por David Ceccon em 10/01/2017
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