PREOCUPADO

Queria me preocupar

com algo mais preocupante.

Como nada me perturba,

crio meu próprio pesar:

A curva que foi mal feita,

a casa mal desenhada;

queria estar preocupado

com uma pessoa, amada.

Quisera ter a ventura

de me perder em lamúrias

por um jarro derrubado

sobre um tapete de lã.

Ter a minha paciência

testada por um novato

que deixa na cafeteira

um vazio toda manhã;

queria querer morrer

por uma doce palavra

que foi mal interpretada

e desilusão causou;

ou ser uma desarmada

freira numa escola velha

que preza por cada aluna

que ainda não se apresentou;

talvez perder a cabeça

pelo bilhete tardio,

inabitual, vadio,

com desculpa esfarrapada

de quem chegou arrasada

por não ter tido desculpas

a dar para costureira

(da qual já não se lembrava).

Fico aqui criando caso,

debatendo-me sem causa,

desenrolando um novelo,

alimentando a couraça

e me afastando da paz;

e me deixando levar;

criando a situação

pra poder me preocupar.

Cassio Calazans
Enviado por Cassio Calazans em 03/09/2017
Reeditado em 05/09/2017
Código do texto: T6102916
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