TRAÍRAGEM

TRAÍRAGEM

JUCKLIN CELESTINO

10 de fevereiro, 2017

I

Probedeu, neste melodrama

Em que a alma

Pejada de máculas reclama,

Não sabes se choras,

Se sorris;

Se te descabelas,

Se deploras

A purgação

Da culpa tua

Na agravante história

Que perpetuar-se-á

Como uma página infame,

Que, mesmo cogitando queira,

Jamais apagar-se-á

A nódoa deixada na memoria!...

II

No imbricamento da trama,

Entre alaridos,

Deslumbrantes mulheres,

Chopes, uísques

E champanhes servidos

Em chiques taças de cristal,

Secundado por teus pares

Na trampa, Qual Judas,

Que traiu Jesus com um beijo,

Tu, Iscariotes,

Num arteiro manejo,

Subiste, da traição --

A mais alta rampa,

Perfilando-se, para dares

O tiro de misericórdia

Naquela que sempre te foi leal!...

Apenas tinhas,

No coldre da deslealdade,

Uma bala,

E, “sem fazer alarde,

Cruel e covarde”,

Dissimulado e meticuloso,

Miraste o alvo,

Um petardo desferiste,

Ferindo profundamente

A quem por inocência,

Ou momentânea parvoíce

Foi logo a ti,

Rogar que a ajudasse,

Que da barafunda

Em que se encontrava,

Esforço envidasse

Para auxiliá-la

Na confusão profunda

Que, confusa e atrapalhadamente

Deixara-se envolver.

Disse-lhe tu, que não se incomodasse,

Que de imediato a iria socorrer,

Pondo aos serviços da Presidente,

Os préstimos teus.

Mas no vai e vem do mundo

“Que é cruel, que é perverso”,

Ditames da própria vida:

“O pau que bate em Chico,

Bate também em Francisco”,

Fere a “Querida”,

Machuca Raimundo!!!

De repente, tão de repente,

O céu fechou-se em torno

Do então Presidente!...

É que, a tempestade desabou sobre ela No teatro de horrores do reprochante

Dia 17 de abril de 2016,

No hilário circo das gargalhadas,

Dos sorrisos de deboche,

Do escárnio, das excrecências,

Do papelão protagonizado

Por suas excelências,

Que nos escaninhos

De suas consciências,

Infecta, ainda mais, os cantinhos

Frívolos dos seus corações

A verberar

Prepotência e arrogância ,

Com se fora veneno a destilar,

Inoculando peçonha nas entranhas

De alguns deputados

E algumas representantes

Da Câmara Federal,

Deixando transaparecer,

Naquele fático dia,

O seu lado mais primitivo,

Sua essência mais ruim,

Deleitando-se em atitudes tacanhas,

Cuja simbiose animal Fez com que, se entrelassacem

Na mútua cumplicidade, Regada a pilherias, ridículo gracejo, Debochadas troças – num cinismo de dar dó,

A se enrolarem

Com camisas da Seleção Brasileira,

A portarem

Bandeiras verde e amarela,

Sorriso bestial

Na face debochante,

Ao tagarelar

De“tchau querida”,

Num acinte de menosprezo

À mulher, à mãe, à avó,

A se perderem no emaranhado

De falta de argumentação, Prestando-se a tão vulgar

Subterfúgio, por nada

Terem na lei encontrado

Que a enquadrasse

No crime de responsabilidade.

Eis que surge, então,

O reproche

Da conta de chegada –

O torpedear

De ela ter cometido “pedaladas,”

Termo alinhavado,

Cuidadosamente costurado

Para propiciar o impeachment!

Aproveitando o ensejo da treta,

O Promedeu,

Num átimo percebeu, Que da armada mutreta ,

Poderia, de “vice decorativo”,

Chegar a presidente.

JUCKLITO DE ITABUNA
Enviado por JUCKLITO DE ITABUNA em 12/09/2017
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