PUNHADOS DE VERSOS

DEFINIÇÃO

Defino-me: como um grão

De areia num infinito deserto,

Sorrindo daqueles

Que almejam ganhar o mundo,

Ir bem fundo

No afã bestializado

De juntar tesouros na terra,

Não percebendo, que na vida,

Tudo encerra

Uma grande ilusão,

E que no fim da estrada,

Não lhe resta nada

Para levar para o túmulo,

E que o homem,

Por mais poderoso que seja,

Sem Deus, é um grão de areia,

Perdido num infinito deserto,

A vagar sem rumo.

DELÍRIO DE GRANDEZA

I

Eu sei onde as batatas ramificam,

Porque sou como o espinho,

Que para ser bom,

Já nasce com a ponta!

Conheço da ciência – todos os meandros:

Observar, testificar, comprovar.

E tudo, porque Deus assim, o concebeu,

Sendo o principio de todas as coisas que neste

Mundo foram criadas.

II

Sou o deus do meu próprio convencimento,

Porque ninguém me convence, do que eu não

Queira ser convencido.

E ninguém incute em minha mente,

Ideias pré-concebidas.

Sei de todas as verdades, crenças e postulados,

Pois trago em mim retratados –

Experiências e ensinamentos de vidas passadas.

Não precisa, pois, que alguém me prove algo.

A verdade que sei e que acredito,

É que ninguém cria nada,

Apenas copia o que outro já fizera!

III

Tal pensamento grandioso,

Atribuído a tal pessoa,

Não é, decerto, dessa tal pessoa

O crédito que se apregoa!

Tudo por mais estupendo que seja,

Não enseja

Para sempre gloria,

Pois tudo na vida, morre

Na poeira do esquecimento!

IV

Desconfio de tudo, ou quase tudo,

Por não aceitar receita pronta!

Analisar a bula, é preciso,

Para aplicar a dosagem certa

À cura da moléstia,

Pois não careço de padecer

Por omissão ou desleixo!

Não dou crédito a certos gênios,

Que não sabem utilizar a genialidade

Para a prática da bondade!

Gênio é aquele, que só edifica para o bem!

Que a sua obra perpetua,

Para ajudar a humanidade!

O TEMPO QUE PASSOU

Estava pensando no tempo.

Nem deu tempo,

De o tempo observar,

Pois quando olhava

Para o tempo,

No instante que descuidei-me,

Não vi o tempo passar!

DÚVIDAS

Se pudesse,

Não me aventuraria;

Se me aventurasse,

Continuaria;

Se tudo desse errado,

Não lamentaria.

Afinal, por que tentei

Aventurar-me

Em louca empresa,

Sem ter a certeza

Que obteria êxito?

MEDO DA PRÓPRIA SOMBRA

O homem sem objetivo,

Sem ter algo

A que se apegar,

Receoso a ariscar,

Perde o sentido

Da vida,

Fica difícil viver,

A se esconder,

Com medo

Da própria sombra.