DESABOU

Entendo que não detemos

sapiência suficiente

pra perceber o quão fino

é ver no mar o poente;

oh, meu Deus, quão bobos somos,

vivificando um enredo

e construindo cenários,

subtraídos de medo;

enfeitando nossa casa

pra que possa transitar

aquela pessoa alada,

aprisionada no ar;

absortos em verbetes

bocejantes e melosos,

vendo consumir em drama

nossos alqueires valiosos;

resplandecendo no peito,

do ser que foge e que ama,

esse tom avermelhado,

misto de feno e de chama;

queimando despercebido,

atenuante, fadado

a julgar-se "o" oprimido;

"o" decadente entediado

ser que não conhece a luz;

que desconhece o solar;

graduado em dissabor,

pós-graduado em desabar;

desabou...

Cassio Calazans
Enviado por Cassio Calazans em 17/09/2017
Reeditado em 23/03/2018
Código do texto: T6117183
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