Filhos do milênio

Que dor é essa que me corta prazerosamente?

E esse sentimento me comprimido aos limites atômicos?

Que fome é essa que nunca passa, um desejo interminável, que jamais se sacia?

Será eu um exemplo da minha geração?

Nós que afundamos nas pequenices da vida até que uma corda seja posta em nossos pescoços por nossas próprias mãos?

E o tempo que nos arrasta, com a lembrança de que não somos nada e que temos que nos sujeitar…

Para ter uma profissão,

Para ter dinheiro,

Para ter amor,

Para ser lembrado,

Para ser querido,

Para não estar só.

Esta é a nossa maldição.

Nosso jogo, no qual mesmo ganhando perdemos tudo de nós mesmos.

E somos pisados pelas leis que nos deveriam apoiar.

Humilhados por aqueles que nos deveriam ajudar.

Somos culpados por nossa infelicidade,

Mas a raiva que eu sinto é universal.

Desproposital?

Unilateral, sim…

Nos encontramos no senso comum, o qual nos pinta como os loucos, doentes, mimados, desajustados.

Anarquistas de merda, para uns

Coitados para outros.

Nunca seres humanos para sermos entendidos. Amados como somos.

A vida nos julga através dos olhos que nos assistem,

E nos condena através das ações dirigidas a nós.

Mas eu…

Eu estou cansado da rejeição.

Já me vendi até não sobrar nada de mim,

Doei-me até que nem mais o chão sobrou sob os meus pés

E agora eu me dobro ao peso das consequências.

Eu não sou ninguém.

Não tenho importância alguma e não sou capaz de fazer nada por outras pessoas.

Não tenho empatia, não sinto dor.

O sistema finalmente me quebrou.

Tornei-me uma máquina proletária.

Um peão nos jogos dos mais poderosos.

Usado, descartado e esquecido.

Que vida é essa que não se desenvolve?

Onde estão os caminhos para eu seguir?

Eu não quero desistir, mas…

Não consigo resistir.

Somos nós uma geração decadente.

Cruzadores do século, desbravadores do milênio.

Será sobre nossos corpos usados e sofridos que se erguerá o futuro.

Um futuro que não irei ver…

Um consolo para minha alma torpe…

Logo virá o sono dos antigos.

Logo serei poeira das estrelas,

Logo estaremos unidos em nossa insignificância.

Obliterados. Obsoletos. Irrelevantes.

THR Oliveira
Enviado por THR Oliveira em 09/10/2017
Código do texto: T6137867
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