Alfabeto Poético
Ausência – unha curva que cresce na carne. E como dói!
Bom – tudo aquilo que eu desejo.
Ciúme – ofensa a minha vaidade.
Desilusão – fino corte sem sangue.
Estar – é rasgar-se e remendar-se.
Felicidade – se acha é em horinhas de descuido.
Gostar – ninho com ovos de ferro.
Homem – rascunho da criação.
Infelicidade – questão de prefixo.
Juramento – iminência da indignidade.
Liberdade – ilusões criadas pela minha consciência.
Mentira – necessidade dos covardes ou recurso dos vaidosos.
Nós – um infinito colorido de possibilidades possíveis.
Pranto – quente, úmido, silencioso, abundante, diário e obscurece-me a razão.
Quero – fome, pois a faca e o queijo já tenho em mãos ou achar o caminho de volta ao amor.
Rotina – bisturi afiado que delicadamente dilacera a carne dos afetos, todos os dias.
Solidão – este quarto no qual me encontro.
Tesão – abismo sobre o qual caminho calmamente, por uma ponte carcomida e velha chamada “sociedade”, com o rosto, os olhos, o corpo todo em brasa viva, desejando me jogar a cada instante.
Utopia – nunca mais dizer “te amo”.
Verdade – há demônios que queimam dentro de mim.
Xodó – amar domingo a tarde ouvindo o mar ou aqui mesmo.
Zelo – um pé de saudade roxa, sem as meiguices do espírito, que guardo no coração.