Última Carta

Estou escrevendo a última carta

Permanece em minha mente meus amores e mágoas

Minha vida está passando por uma dura etapa

Escrevo aqui meus sentimentos e minhas lágrimas

Sobre máscaras, sobre paixões falsas

Com uma caneta, e não com uma pena, construo a cena

No palco, a minha bela Helena

E com um cavalo de madeira, a perco, torna-se uma lenda

Ato dois, abraço uma pessoa vigarista,

Com poucas palavras ela me conquista, perco de vista minha trilha

O terceiro é uma comédia, salve Dante

Eis que surge uma “divina” tragédia, criada por ignorantes

Ao badalar das quatro horas, o tempo congela, estou só, na janela

E a vista dela reflete uma neblina, que deixa a visão cega

E nesta peça, torno-me um apreciador de palavras belas

E recebo dos céus eternos versos poéticos

Que se tornaram meus médicos.

Escrevo aqui uma dedicatória infeliz

Dedico a uma pessoa que já não mais está aqui

Dedico a quem desistiu de mim

Olhos de pura rocha negra

Lábios que atraíram para a teia

Meiga, traiçoeira, brincalhona, uma cobra do deserto

Esperando para atacar seu alvo predileto,

Um coração indefeso, cheio de bons desejos

Uma súcubo, que me seduziu com beijos,

E tomou de mim meus belos momentos.

A vida está raiando novamente

Estou me lembrando como ficar contente

E nesta carta estarei escrevendo o passado

Pois quero esquecer e voltar a ser saudável

Vivenciei muitas ilusões, me feri com separações

Mereço um descanso, mesmo não sendo um sábio

Sofri muitos atrasos, muitos golpes baixos

Nesta carta eu darei um fim as dores, tamparei os buracos.

Escrevo aqui os lamentos que vivi

Os meios que encontrei para conseguir prosseguir

Em uma simples carta eu resumo minha dor

Com alguns parágrafos eu amenizo meu rancor

Com uma folha de papel eu me sinto um sonhador

Escrevo aqui almejando a paz ao meu interior

Despedindo de todos aqueles que me enxergavam como um objeto

Fugirei para longe, para o mar aberto.

Escrevo aqui versos líricos

Expondo em cada palavra como me sinto

Em cada ponto final, eu evito cair no abismo

Como um pardal eu me sinto livre,

Passando por entre as linhas da paixão, sem perder o equilíbrio

E, talvez depois de alguns dias, me torne um bom inquilino

Ao me deitar, eu sonho, e essa carta é meu campo,

Onde plantei o passado, onde colherei o futuro

Onde escrevo o presente,

E onde esquecerei os que ficaram ausentes.