PULMÕES

O sopro primordial
Totalmente vital
No gesto do criador
Levantou as vagas
Criou os mares
As plantas, os seres
As brisas,
Os ventos, os ares
E o balanço dos Coqueirais

E assim,
No primeiro instante
A vida se faz sentir
No choro forte
Da primeira expiração

E pela vida seguiremos
Entre risos e suspiros
Sussurros e segredos
Dependentes do fôlego
Trilhando por um triz
Entre a oxigenação
E a vil desaturação
Flutuando incerto
Até a última respiração

O ar é vida
E a vida inspira
Um livre impulso
E a vida é plena
No livre fluxo dos pulmões
É a diferença de pressão
No suave movimento
É a angústia do silêncio
Ou o grito de socorro
No sibilo angustiante

As palavras sussurradas
Do afeto do coração
Não sairiam do peito
Sem a ajuda da respiração
É a emoção que sai do tórax
Num sonoro eu te amo!
É o sopro divino
Na magia da criação!

O homem tresloucado
Na sua louca epopeia
Mata a fotossíntese
Impondo a humanidade
E a toda natureza
Intensa dispneia

Mas no âmago do nosso bafo
No mais íntimo dos alvéolos
Estamos todos Interligados
Nos abraçamos pelos ares
Diferentes povos
Diferentes matas
Diferentes mares
Numa única emoção
Numa única respiração
Antes da última apneia

Mas a tua ausência
Minha alma inflama
Fibrosa meu espírito
Arrefece meu sopro
Endurece meu interstício
E faz da vida um precipício
Roubando-me a força
De cantar a vida
Apagando a minha chama