[Cajado]

Viramos as costas para o mundo

Viramos as costas para a cidade,

Viramos as costas para o nosso bairro.

Viramos as costas para os nossos vizinhos

Deixamos de nos importar com os problemas,

De desconhecidos, amigos e familiares.

Deixamos de querer sofrer pelo próximo,

Fingimos não ver o reflexo no espelho...

Porque nos assusta a ideia de nos vermos sem fantasias.

É mais fácil ignorar

Deixar a luz do corredor acessa,

Do que ir de encontro ao problema.

Criar barreiras invisíveis,

Para que a esperança, fique somente em nós.

Deixamos de ser luz,

Para sermos pequenos pontos, em mares não navegáveis.

[Deixamos de ser cajado

Para sermos rédeas.

Deixamos de ser poesia

Para sermos lei].

Deixamos apenas de ser

De crer, de querer, de fazer.

Deixamos,

Apenas deixamos,

De viver.

Afogamos

O que há de puro,

Escondemos o que nos faz real.

O espírito indomável

Agora segue ordens,

Em algum lugar.

[Deixamos de ser pão

Para sermos pedra...

Deixamos de ser candura

Para sermos intransigência].

Deixamos de sermos

Todos em um...

Parse sermos um,

Perante todos.

Escolhemos o lobo,

Para perdermos a face de cordeiro.

Decidimos pela malandragem...

Porque a bondade, é visto com descrença,

Em lugares dominados por tolos.

Viramos, reviramos, reinventamos...

Mas não somo capazes de preencher o vazio,

Sucumbimos ao ego e ao umbigo...

Delírios de um horizonte febril.

O corpo, vale mais que o caráter

O dinheiro, vale mais que a palavra,

O material, compra a honra...

E assim,

Vamos deixando

De ser...

Para ter.