QUINTAL VAZIO

Por onde andaram meus sonhos

que, há muito, já não os via?

Exilados no abandono?

Reduzidos a 'utopia'?

Se admitiram inocentes?

Desistiram de emergir

do fundo do inconsciente,

e a superfície invadir?

Em que lençóis, ofuscado,

reluta em se descobrir

aquele olhar do passado

que aspirava refundir

as velhas leis da conquista,

do capital, do existir?

Em que chumaço padece

o intento de resistir?

Quais desacertos tornaram

inábeis as poesias

intensas, agonizantes,

ricas em filantropia?

E as sementes plantadas,

por que remancham brotar?

Será que, desenraizadas

pela ausência do sonhar,

varreram-lhes novos ventos?

Asfixiadas no esterco,

desabrocharam no mato

imenso que adentro e me perco?

Impossível concluir,

se é mera conspiração

dos astros, deuses, capricho

ou falta de aceitação.

Mas nesse quintal vazio

involuído; esquecido

num céu nublado e sombrio,

num solo seco e partido,

é que, hoje, a cada dia,

vejo rejuvenescer

aquele olhar e a magia

que vem desse renascer.

A cada ciclo de passos;

a cada nova experiência;

rememorando o sentido

da criação, da ciência;

Das coisas simples da vida,

de cada tempo e lugar;

aos poucos me redimindo,

recomeçando a sonhar.

Cassio Calazans
Enviado por Cassio Calazans em 10/11/2018
Código do texto: T6499171
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