QUINTAL VAZIO
Por onde andaram meus sonhos
que, há muito, já não os via?
Exilados no abandono?
Reduzidos a 'utopia'?
Se admitiram inocentes?
Desistiram de emergir
do fundo do inconsciente,
e a superfície invadir?
Em que lençóis, ofuscado,
reluta em se descobrir
aquele olhar do passado
que aspirava refundir
as velhas leis da conquista,
do capital, do existir?
Em que chumaço padece
o intento de resistir?
Quais desacertos tornaram
inábeis as poesias
intensas, agonizantes,
ricas em filantropia?
E as sementes plantadas,
por que remancham brotar?
Será que, desenraizadas
pela ausência do sonhar,
varreram-lhes novos ventos?
Asfixiadas no esterco,
desabrocharam no mato
imenso que adentro e me perco?
Impossível concluir,
se é mera conspiração
dos astros, deuses, capricho
ou falta de aceitação.
Mas nesse quintal vazio
involuído; esquecido
num céu nublado e sombrio,
num solo seco e partido,
é que, hoje, a cada dia,
vejo rejuvenescer
aquele olhar e a magia
que vem desse renascer.
A cada ciclo de passos;
a cada nova experiência;
rememorando o sentido
da criação, da ciência;
Das coisas simples da vida,
de cada tempo e lugar;
aos poucos me redimindo,
recomeçando a sonhar.