Pedra no caminho

Homem levante-te

O mundo ainda tem cor

Mesmo no âmago sofrido

Das ruas acinzentadas

Mesmo com o frio perturbante

Das noites vazias

Em que tu dormes

Sob um papelão

Sem família, sem o pão

Sendo seus únicos companheiros

Um cão e um carrinho de mão

A fome bate, eu sei

As pessoas não te olham

As sombras te perseguem

E no teu caminho as pedras lhe padecem

A sua loucura já não é mais aceita

Militares nas calçadas chutam

As tuas “tralhas”

Te humilham, te chamam de nada

Teu sangue derramas sob a guia

Turistas passam e não te dão a mínima

Acorde! Acorde! Homem, você pode me ouvir?

O mundo ainda tem cor, levanta-te

Estás agora desacordado homem

E teu cão ao seu lado

Seu único amigo

Nem mesmo o resgate veio te socorrer

Já que consideram o teu caso perdido

Um a menos para o Governo

Mais um indigente no caixão

Tanta gente passando ao teu lado

E ninguém te estende a mão

Homem acorde! Acorde!

Não deixe que o sistema te mate

Acorde! Acorde!

Tu não respiras mais

Talvez o mundo seja mesmo frio

E as pessoas vazias

O céu escurece

Tempestade! Apagam-se as cores da cidade

As sombras se alargam pelos centros

As viaturas se vão, silencio nos becos

Há homens que se salvaram

Esconderam-se em bueiros e construções antigas

Outros ainda serão alvos da milícia

O luto não é apenas pelo homem

Mas pela injustiça que mata todos os dias

Pela falta de empatia, pela frieza

Pela falta de alimento na mesa

O luto é pelas sombras

Pelo cinza negro das cidades

Pelas calçadas ensanguentadas

Pela desigualdade social

Um indigente morto

É só mais um para o irracional

Mas um dia ele foi uma criança e teve sonhos

E hoje ele é só mais um morto.

Rafaela Romero
Enviado por Rafaela Romero em 04/07/2019
Reeditado em 04/07/2019
Código do texto: T6688211
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