Silencios da alma
absorve-me o silencio da lembrança de tudo,
do primeiro amanhecer e do sol sorrindo,
dos rostos que amei o apagar-se mudo,
da saudade de ser, em minha vida esvaindo.
observa-me o silencio do olhar vencido
a procura de peregrinas pegadas vazias,
do sonho de ter pelo tempo corroído,
sobre frias fuligens de fugazes alegrias.
absolve-me o silencio do fenecer do medo,
do adeus custoso e velado a velhas trincheiras,
descerrando na janela d'alma o véu do degredo,
moto libertário de esperanças derradeiras.
observa-me o silencio da incansável vigia
do olhar pedinte, que do céu espera abrir
a colheita de asas em voo e ceder alegria
ao aparvalhado presente e gestar do porvir.
absorve-me o silencio fiel e constante
do rosado e florescente rosto menino,
demudado no apagar de todo instante,
pra desperta-me em poesia novo destino.
observa-me toda dor de um rosto amado
absorve-me o azul do vento e o céu rasgado
absolve-me o grito do amor na cruz pregado.