Mahalak, a Jornada

Hoje, escuto “Hospedando Anjos”, pensando em você,

Sabendo que você se foi.

A dor me domina, a tristeza também está lá,

Pensamos que seria apenas tristeza e arrependimentos.

Mas não... a triste não está só,

E não há arrependimentos (estou surpresa) ... o coração está limpo.

Há uma parte de mim profundamente feliz, vibrando

Porque te conheci, fiz parte da tua vida, mas não somente isso,

Te vi, quando eu ainda era pequena, como ninguém ainda te enxergava por dentro

Sofri tuas tristezas, senti tua solidão e infelicidade, e orei por isso.

Amarguei o triste sabor da tua vida, te enxergando, como poucos,

Com tuas virtudes e pecados, quando era ainda santa para todos.

Te enchi a paciência para seres feliz, e pedi a Deus por tua felicidade.

Sempre me perguntei por que eu enxergava tanto em ti,

O porquê de tua dor, calada quieta, aquela infelicidade que não ousavas mostrar,

O porquê ela doía também em mim.

Talvez fosse por enxergar em ti um espelho de mim mesma,

Por isso precisava que fosses feliz pra que eu tivesse a esperanças de também ser.

Talvez fosse por eu também ser triste e infeliz dentro de mim,

Por minha luta constante entre o aceitar ou expulsar esta infelicidade,

Que mais parecia patológica.

Por fim, consegui, com a ajuda Dele, expulsá-la,

Nesse momento, eu quis ainda mais que tu também fosses feliz.

No fim, tua vida, de “perfeita”, caiu e se quebrou.

Todos se espantaram com os cacos no chão... menos eu.

Eu Sabia que era tua chance de construir felicidade, a partir do nada,

Pois aquela agoniante infelicidade estava agora ali, no chão, em cacos, sem possibilidade de remendos.

Enquanto todos se entristeciam, fiquei feliz por ti,

Pela primeira vez, eras livre para se construir,

E eu sabia o valor isso!

E se construí. Foi feliz. Experimentou a vida. Se permitiu admitir o pecado.

Errou, transgrediu, se arrependeu, se rendeu a Ele, dessa vez por tua vontade, inteira.

No fim, fostes feliz... e isso bastou pra mim.

Hoje, te guardo, vestida, linda, numa urna,

As lágrimas estão aqui, mas nem todas são tristes,

Pois sei que cumpriste tua missão entre nós,

(Nós fomos tua dolorosa missão)

Mas não perdeste a fé, que levas contigo agora,

Te conduzindo ao final descanso.

Hoje, não vou dizer Adeus, mas até mais tarde...

Te juntas, hoje, à nossa velhinha, que um dia desses vou eu também ficar com vocês.

Marta Almeida: 10/04/2020