A cura apenas para o fim do mundo

Para Robert Smith.

Gosto das coisas que começam e acabam

do estrago e do escândalo

do estrondo que antecede a hecatombe

e da morte lenta como perfume de sândalo.

Oh gosto também da pobreza em minha rima

e do verso que acaba sem dizer nada.

Gosto das coisas que começam e acabam.

Das estrelas que acendem e apagam,

da chama bruxuleante da vela

como a da minha vida que sou grato

por não saber que vento virá ceifá-la.

Gosto das coisas que começam e acabam

pois o fim põe a possibilidade de glória

no destino mais ordinário

põe um riso leve e mais intenso que o sol

à boca de qualquer vidinha,

a mediocridade já não junta lama suficiente

para atolar e deter seus pés

e sob a adoração das luzes mais castas

você pode ser um raio azul

no seu mundinho de perfídia e insistência.

Gosto das coisas que começam e acabam

e de seu cabimento na circunstância

de uma vida. Isto já valeria o prêmio

além dos prêmios, o fechar das cortinas

ao final do espetáculo.

Sim, sim, eu gosto mesmo das coisas

que começam a acabam.

As coisas verazes e boas não podem

(nem devem) durar para sempre.

Meu Deus, o que a Eternidade

indiferente Deusa Tutelar

dos Desertos Abertos,

faria com tanta existência em seu quintal?

Meu Deus, quem quer ficar aqui

para além das sementes?

Grouchesco
Enviado por Grouchesco em 15/04/2020
Reeditado em 15/04/2020
Código do texto: T6917557
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