Em mim

Não foi assim que vim

Nem mesmo decidi vir a estar

Ou pertencer àquilo que me rodeia

Posta a encarar dias imensamente azuis

Talvez borrados, sob o rascunho, de tons pastéis

As expressões não foram, sempre, as mesmas

Linhas refeitas, ainda mais enfáticas pelo tempo

Obra pungente do templo inestético da vida

Súbitos voos me refizeram

Longas remadas me levaram

Precisei ir distante, aos aléns da minha saudade

Para pousar, enfim, sobre a minha existência

Acalmando o turbulento irreconhecimento

Como mísero broto na espinha da alma

- carrego, exaurida, o cansaço diário -

Não tive qualquer anunciação

De que me caberia esta rotina

Estes gestos, estes dizeres

Estas formas geométricas do incompensável

Do meu reflexo distorcido no espelho

- Quem é esta mulher?

Quem mais, além de tantas que fui e serei,

Poderia ser?

Vejo variações do que não foi pedido

Não me dei por isso

Eu não pude enxergar a minha chegada

Nunca, jamais

Para sempre, o meu bastante

Ou quase

Tão duvidoso, tão preciso:

- Em que momento eu me dei

Por mim, senão agora?

Mariane Amaral
Enviado por Mariane Amaral em 09/05/2020
Código do texto: T6942679
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