Abstêmio

Taças de sangue vão tilintando, por aí

na flora do querer são vastos vergéis;

uns viciados numa só marca a ela fiéis,

outros esbaldando, múltiplos coquetéis

certos beberrões, que a contragosto vi;

que cenário infausto, mui feio, lúgubre

infantes já passando pelo mesmo crivo;

se atirando sobre isso ainda impúberes

mal suas garras despegaram dos úberes

e para eles voltam, por um outro motivo;

não que o mesmo vento não me abana

também corre o mosto, em minha veia;

mas, posso santificar essa coisa profana

poeta é um cronista da miséria humana

que faz patente a sua, contando a alheia;

o Fado paga outros, mas ele não recebe,

obram por amores ele em eterno sábado;

rei de coisa nenhuma, menor que a plebe

enfim, sisudo sorumbático que não bebe,

para dirigir o carro em favor dos bêbados...