Fonte turva

Todos têm u’a criança dentro de si, dizem,

não sei; mas, as grávidas, por certo, têm;

uns têm feras, predam sem que precisem,

outros, os camaleões, pra que mimetizem

e escapem à argúcia dos olhos, que veem;

Platão não foi romântico, deduzo conforme

seus textos que Cronos faz chegar à gente;

vestiu o homem tendo a pele por uniforme

e “inside” muitas cabeças, besta poliforme

testando forças do homenzinho impotente;

desejos e razão em seus conflitos, ensinou

a razão vê a luz, e vontade bestial a abafa;

assim decidem, muitas cabeças bestas, ou,

o racional induz rumo à luz que ele divisou,

retendo o licor de paixões ainda na garrafa;

pode que tenhamos um fedelho, num canto

que choraminga cagado a espera de banho;

sempre que a pureza tenta forjar um santo,

alguma terra suja, a fonte de nosso pranto

fruiríamos ar puro se não fosse certo ranho;

sei, é pessimista, esse monótono berimbau,

os que quiserem retrucar que a fala tomem;

Deus trabalha duro com muito perna de pau,

pois, mesmo presumido honesto inda é mau

e o desonesto, esse ai, sequer é um homem...