A CADEIRA

O desejo cruzava e descruzava as pernas,
abria possibilidades impensáveis.
Silenciosamente aceitava as angústias da inquisição
e o seu peso flutuava naquele tribunal.
A atenção lhe fazia imóvel,
atento a cada dica que copiava cegamente.
Agora o tempo já não corria muito
e suas lembranças galopavam velozmente na varanda.
A mosca no seu acaso pousava sisudamente
até o próximo voo, no silêncio da tarde.
O objeto se descoisifica poeticamente
quando recebe o assento da bela moça no bar,
do acusado diante do júri,
do pré-vestibulando agoniado buscando aprovação,
no geronte que descansa no pátio da sua casa
ou na não serventia do inseto
que se passa invisível na rotina diária.
Aquelas madeiras na utilidade da cadeira
serão mais eternas do que eu.