Corro à simplicidade de um convento

Corro à simplicidade de um convento,

deixo o que não cabe à pele e vivo contente assim, como agora os olhos e o sorriso.

Penso ser a alma comigo coisa alguma e ando com ela e a amo mesmo assim.

E ando comigo também e olho pra mim com agrado e basta-nos.

Não sei se me escutam o teclar os versos

ou se enxergam a rosa que pensei pra eles

e que vai me custar algumas folhas da roseira,

ainda que não haja vento e nem folhas

pois já não estou lá fora.

Se meus pés me estimassem, corriam como quem anda, voltavam como quem fica;

talvez minhas mãos lhes ensinem a ser pés,

e meus olhos cá no verso são mais olhos

e meus ouvidos também são olhos quando escrevo,

até esta brisa são meus olhos, pois colhi-a no campo inda há pouco.

Não sei se sonho ou se escrevo e isso é sonho também pois longe das coisas posso vê-las ou elas que me sonham ainda mais depressa que eu a sonhá-las, não sei, já são duas horas da manhã e preciso dormir.