A utopia da plebe soberana
A plebe empoderada,
que parteja o poder...
É o círculo da linguagem,
em voga perene,
na modernidade.
A grande utopia!
Doce apologia...
A engrenagem real
poderia até ser,
Mas nunca foi,
não é e nem será
a plena liberdade,
muito menos igualdade,
tampouco a dignidade.
Labiosa alegoria...!
Não deveria ser,
mas, cristalinamente,
é tão somente um mote,
um mote do poder,
ao bem de alguns tais,
dissimuladamente.
O sonho dos iguais,
plantado, cultivado,
na plebe decretória,
que mal se alimenta,
quando se alimenta,
que celebra o sufrágio,
para a festa dos nobres,
às custas da gente,
que não tem a senha
para o lorde ágape.
O poder emanado
da gente comum...
É a velha ideia,
dissimulada ideia...
Contrafeita mensagem...
Nos anais da história...
O poder fictício,
em mãos dos adstritos.
Enunciação do escárnio,
que os legitimados
os fazem acreditar...
A plebe brota o poder,
todo o poder à plebe.
Foi-se a realeza...!
Foi-se a nobreza...!
Foi-se a oligarquia...!
Eis um novo tempo!
O estado é de direito.
O coro assim diz...
E a plebe labora,
e a plebe suporta
o ônus das crises,
o horror da inconstância,
a sequela da inverdade,
o custo do aparato...
E sempre disposta,
ainda que infeliz...
E segue as gerações...
Pois, se há uma conta,
há um destinatário.
Então, que seja a plebe.
E... inexoravelmente,
que a fina flor usufrua,
sempre em grande estilo,
na lei ou fora dela,
essa mesa posta,
fruto de grilhões.
Os membros da corte
nunca temem a lei,
estes fazem a lei...
E a lei é linguagem,
a linguagem do ilustre.
E a lei é fala,
puramente fala,
ao modo dos nobres.
E a ordem é a base
da mesa mais farta,
das plenas benesses
e das imunidades,
e das conveniências,
à moda do fidalgo.
Tudo podem os nobres,
desde sempre.
Tudo sonha a plebe,
para todo sempre.
E tem sucedido
o permanente círculo,
do direito raso,
da toga maculada,
do pleito alienado,
do comando pútrido,
da grande utopia
da plebe soberana.
Eterna fantasia...
O venturo nutrido...
Tudo pela política,
tudo pelo poder...
E a justiça...?
E a equidade...?
Pois é... A justiça...
O sonho da plebe...
E a frívola resposta
é o que se põe a messe,
desde o grande Clístenes,
até os nossos dias.
Manoel Messias, 04.02.2021