Recolocando o Mim no palco

Caminhei sem parar, sem me cansar,

Construir obras, vesti-me de poderes,

Pensei que isso era tudo,

Então, mudo-me, e nada,

Tudo zero, de novo,

Novamente, caminhei sem parar,

Dessa vez, me cansando, mas indo, fôlego pesado,

Me encantei com novas roupas, com novas cores,

Quando pensava que tinha chegado

Não chegava nunca,

Caminho se abrindo feito oásis e sumindo feito ilusão de deserto,

Quando ia me rebaixando, implorando,

Recomeçando com bagagem que tinha,

Algo chamou minha atenção no fundo da minha bolsa,

Jogados, lá de cantos, esquecidos e maltratados

Estavam meus talentos.

Parei, olhei-os, refleti:

Quem disse que eu tinha que ganhar qualquer benção de título,

Bem ali, no fundo da minha bolsa, estava quem eu era,

Presentes dados a mim para eu me construir.

Então entendi,

Estivera por tantos caminhos apenas como estrangeira, sem identidade lá,

Visitando, ganhando bagagem, agregar valor,

Pra voltar e construir, multiplicar, meus talentos.

É hora de voltar pra quem eu sou, me reencontrar,

Minha identidade da leveza às raivas e dores.

Essa era a resposta que eu esperava enquanto caminhava,

Engolindo lágrimas e raivas, sem ser ninguém,

Porque eu não era eu.

Marta Almeida: 21/09/2021