Sirva-me as migalhas

Cala-te pátria de desordenados

Na infâmia dos porões à proa

Em contínuo turbilhão de ondas

Lançam à fome da desonra

Sois vermes na carne humana

Que aos cifrões não te cerceaste

À gula incessante que debruça

Dos flagelos e dores semeaste

Nutre corvos da bandeira hasteada

Nos pálidos sonhos decadentes

Que aos heróis negada a honra

Foge a áurea, fidalguia dementes

Alça-te do trono que extorquistes

Em brado glória assine a alforria

Que o povo em queixa se desdobra

Nas incertezas que à pátria construístes

Não são estrelas vermelhas, corvos,

Aberrações da desmama pelo lucro,

Tão pouco as bordadas em fardas

Farsas transformadas em vultos

Cá ou Acolá não fostes o escolhido

Na essência, são todos bandidos

Governantes do tráfico de favores

Vivem ambos em noites de amores

E o povo que ao sol da flamula

sub-raça acredita e desvela

Guindam sobre o suor da miséria

Na liberdade que encerra

Não cabe mais que três dígitos

Na algibeira que à saúde se venderam

São analfabetos dos sistemas

Que sutilmente ordenastes em êxitos

São Joões , Marias, Josés e Severinos

De Drummond, Vinicius, João Cabral

De tantos outros na literária caricatura

Representam um Brasil de peregrinos

Mas é vergonha que me indigna

De acreditar que cada qual segue sua Sina

Quando a liberdade que a mim alforriada

Fez me escravo à perpétua rotina

Sirva-me as migalhas

Que da mesa vêm ao chão

Enquanto a parte que me cabe...

Fica a critério do patrão.

É nesse universo já engenhado

Que cumpro com rebeldia

A parte que me é ostentado

Valendo-me dia a dia

Paulo Sergio Barbosa
Enviado por Paulo Sergio Barbosa em 14/12/2021
Reeditado em 28/03/2022
Código do texto: T7407356
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