Pastor ou Lobo?

Por trás de uns vidros d’óculos opacos,

Muitas vezes um lobo ou um leão, rugem,

E como um absurdo temporal estrugem

Os ódios dos covardes e dos fracos.

Fugir pudesses, ó poeta em cacos,

Dos vidros que ocultam almas de ferrugem,

Que espumam de ira, tenebrosos mugem,

Mugem como de dentro de uns buracos.

Que essas sombrias, dúbias almas foscas

Que parecem, no entanto, como moscas

Inofensivas, viscosas como as lesmas.

Mas tu, em vão, tais vidros partirias?

Pois que no mundo, eternamente, as frias

Almas humanas serão sempre as mesmas.

José Aparecido Ignacio
Enviado por José Aparecido Ignacio em 05/03/2022
Reeditado em 07/10/2023
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