OUTONO DE UMA ALMA
Outro verão se finda, levou consigo todo seu calor.
Prepara-se, de já, essa alma para suportar sua dor.
Ao quedarem-se as folhas mortas, amarelas e ressequidas,
Formarão tapete crocante, aos ouvidos dos que não as vêm!
Delírios inúteis, sonhos castos, elos sutis,
Devaneios épicos, lembranças pueris, no passado ficarão.
Hoje a mortalha me cobre, me reveste de negro cetim,
Matiz de tristeza me acolhe , aconchega-me a nostalgia.
Perco o viço de outrora, trago enlutado meu peito,
Choro um choro um tanto escondido, quase de mim mesma, talvez!
Nada tenho de diferente, nem de novo dessa vez,
Apenas na face, uma indiscutível e indisfarçável palidez.
A sofreguidão contida nesses anos todos, a ninguém comoveu!
Aliás, também acredito que ninguém mesmo, percebeu!
Cicatriz que nunca se fecha, dilacera-me o peito por muito amar
Entremeios, ao quedarem-se as folhas, farão todo sangue brotar.
No suplício dessa dor, permita-me, sem medo nenhum, chorar.
Essas, nada derradeiras lágrimas, num segundo vão jorrar!
Outono de folhas caindo em seus últimos suspiros de vida,
Compadece-te de mim! Oh, Outono!
Eliana Braga
Gaivot@