A moça da chuva

Era magra e de olhos verdes

Coberta por uma capa de chuva improvisada

As mãos agarravam as sacolas de papel que guardara para vender...

E tremia encharcada de chuva.

Estava com fome.

Não tinha vendido nada.

Quando ela ganhou o dinheiro da venda, sorriu tímida...

A boca sem dentes, o corpo magrinho, tudo nela era fragilidade, naquela tarde.

A custo contive a emoção,

Silenciando diante daquele espelho

de uma sociedade ainda tão egoísta.

Teria família?

Quem a abandonara em tamanha carência de tudo?!

A moça da tarde chuvosa

Era você e eu...

Dentro de mim, no mais dentro de mim mesma,

Algo se moveu...

Talvez uma prece inaudível

E um sentimento de insuficiência quase insuportável.

De repente,

Inesperadamente...

Eu estava ali desarmada

Olhando para mim mesma.

Eni Gonçalves

08/12/2022