Poética

Todo santo sábado você ouvia Tom Zé e o céu ficava quase sempre mais azul, eu perguntava que horas são como se houvesse alguma pressa e você me convencia sobre o último filme do Godard.

Todo santo sábado você usava mesóclises sem impostação e caminhava com a coluna reta e os braços a acompanhar o corpo até quase chegar ao chão.

Todo santo sábado era santo porque bem, na mesinha que imitava um altar estavam Xangô, Jorge Ben e Cem Anos de Solidão.

Todo santo sábado pedalávamos pela orla e lamentávamos a morte de Gal Costa e reclamávamos dos bolsonaristas óh céus como podem ser tão crueis, mas logo víamos o artista de rua na esquina a declamar poesia e lembrávamos dos contos ardentes de Caio Fernando Abreu.

Todo santo sábado benza deus era muito mais que adeus todo santo sábado quem diria era todo santo dia.