Ode da Desesperança

Ó Desespero meu! Tu que segues e medes

Em cada passo que dou ou não na vida,

Tu que me arrebatas e ainda me prendes

Com tuas garras tão afiadas e retorcidas.

Ó Desespero! Senhor da humana tristeza,

Tu me ensinaste o valor da dor e da solidão,

Tu me colheste do chão da vida e da natureza

Cruéis, malignas e sempre sem compaixão.

Ó Desespero! Meu gênio epilético da angústia,

O qual revelaste o mal de toda alma humana,

Tu que me fizeste sentir e sofrer a imensa labuta

De ser homem corruptível e de ser presa da insana.

Ó Desespero! Meu desgraçado deus da decadência,

Que destilaste em palavras a profundidade da dor

De viver em meio a toda putrefação e à demência;

E ainda assim, inspiraste-me a procurar o Amor.

Ó Desespero Sempiterno! Profeta da morte,

Que me achaste no seio da podridão e da beleza,

Tu me mostraste que esta vida vã é um vil corte

Que leva à morte_ sem alegrias e sem firmezas.

Ó Desespero de tudo! Tu sempre me acompanhas,

E em ti encontro, às vezes, um refúgio e uma dor,

E no teu templo cantam a certeza e a incerteza

De que a vida é sempre inútil, vazia, sem amor.

Mas mesmo assim, eu canto a ti, Desespero,

Pois és a verdade nua e crua de toda a vida;

Ainda que me faças sofrer, eu ainda Te venero,

Pois sem Ti, sou o mero reflexo da ilusão perdida.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 17/02/2023
Código do texto: T7721592
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