Canto cético e abismal

Nessa sombra densa da existência,

O ceticismo encontra sim abrigo;

A angústia aflora com insistência

No trágico palco de cada canto e hino.

O mundo sempre foi vazio e incerto,

O tempo é um fardo que pesa na alma,

A vida é uma faísca que anda pelo deserto,

Onde se busca um oásis, uma fonte de calma.

Na finitude infinita de tudo o que há,

A morte nos espreita_ soberana e fria,

Ecoa o eco do silêncio, que é a nossa sina,

Do ser que busca sentido em algum lugar.

Na ausência de um propósito real e claro,

Caminhamos à deriva pelas mesmas estradas.

A angústia existencial é um fardo tão amargo

Que nos consome, deixa a alma desamparada.

As máscaras que usamos são pesadas,

E o lento fingimento nos devora por dentro;

Nas relações afetivas, a solidão nos invade

E o vazio se alastra qual um primevo lamento.

A existência é um abismo florido e profundo,

Um palco de sombras, mitos, ritos e desilusões

Onde a liberdade é um velho sonho moribundo,

E o cerne humano se veste com mentiras e ilusões.

Nada mais deste mundo resta além do vazio,

Do que não se sabe, deste universo sem sentido.

A razão se dilui na loucura deste labirinto sombrio,

E a angústia nos abraça qual velho amigo conhecido.

Oh, existência cruel, homicida e indiferente,

Teus ópios, poder e violências destroem a gente!

O ser se dilacera em “eus” tortos e indiferentes,

E o Fado nos leva para o rio da razão incoerente.

E assim, mergulhados na angústia profunda,

Desnudamos a realidade em suas irreais cores.

Neste canto cético, a voz humana roga e se inunda

Com a dor dos que buscam seus valores e amores.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 26/06/2023
Código do texto: T7822613
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