Canto cético e abismal
Nessa sombra densa da existência,
O ceticismo encontra sim abrigo;
A angústia aflora com insistência
No trágico palco de cada canto e hino.
O mundo sempre foi vazio e incerto,
O tempo é um fardo que pesa na alma,
A vida é uma faísca que anda pelo deserto,
Onde se busca um oásis, uma fonte de calma.
Na finitude infinita de tudo o que há,
A morte nos espreita_ soberana e fria,
Ecoa o eco do silêncio, que é a nossa sina,
Do ser que busca sentido em algum lugar.
Na ausência de um propósito real e claro,
Caminhamos à deriva pelas mesmas estradas.
A angústia existencial é um fardo tão amargo
Que nos consome, deixa a alma desamparada.
As máscaras que usamos são pesadas,
E o lento fingimento nos devora por dentro;
Nas relações afetivas, a solidão nos invade
E o vazio se alastra qual um primevo lamento.
A existência é um abismo florido e profundo,
Um palco de sombras, mitos, ritos e desilusões
Onde a liberdade é um velho sonho moribundo,
E o cerne humano se veste com mentiras e ilusões.
Nada mais deste mundo resta além do vazio,
Do que não se sabe, deste universo sem sentido.
A razão se dilui na loucura deste labirinto sombrio,
E a angústia nos abraça qual velho amigo conhecido.
Oh, existência cruel, homicida e indiferente,
Teus ópios, poder e violências destroem a gente!
O ser se dilacera em “eus” tortos e indiferentes,
E o Fado nos leva para o rio da razão incoerente.
E assim, mergulhados na angústia profunda,
Desnudamos a realidade em suas irreais cores.
Neste canto cético, a voz humana roga e se inunda
Com a dor dos que buscam seus valores e amores.