Musa,

minha Musa querida,

permita-me que te peça (não, implore)

que jamais me abandones

por estas sendas da vida

onde o Tédio se esconde

com suas mãos chumbentas

prontas para derrubar

o vôo raso do meu coração.

 

Tenho uma simples poltrona

num canto do meu quarto nu

para acolher tua presença,

tu que chegarás (assim espero)

com cuidados de mãe-ternura

para meu sono enfeitar.

 

Minha Musa companheira,

deixa-me ver-te em frente,

atrás, ao lado meu

nesta luta estradeira.

 

No arco daquela esquina,

afasta-me daquele oco

onde a Inveja se estira,

supina,

com seu olho de limo

e sua língua tão fina.

 

Ó, Musa-alvorecer

das minhas mais doces fantasias,

ensina-me a vislumbrar,

no amanhecer de cada dia,

o instante onde finda a dor,

onde o amor principia.

 

Naquele vale infértil,

livra-me do leito-lama

onde o Ódio em crostas se derrama

e num berço assaz estreito dorme

sonhando seu corpo assaz disforme.

 

Musa celeste,

consolatriz,

quando enfim chegar o cocheiro

com seus cavalos do mais negro verniz,

ajuda-me a embarcar sem saudades.

Mas deixa que fique meu verso,

seu pulso,

sua voz,

seu matiz.

 

James Melo
Enviado por James Melo em 07/09/2023
Código do texto: T7879977
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