O MECANISMO DA POESIA
A dor anda num fio
Que o poeta manuseia
Com ele desenha
Um caminho
Em que o leitor passeia
Ao passear, contudo
Num primeiro momento se afeta
Ao sentir que a dor
Que ele sente é a mesma
Que vem do poeta
Mal sabe ele
Que tanto a dor quanto o fio
Tudo é fantasia
Da verdade doída
Que o poeta sente, deveras
Mas engenhosamente, finge que cria
Assim faz o leitor
Espelhar-se na dor recebida
Para nela se sentir bem
Porque esta, oculta a verdadeira dor
Que está na sua consciência
Mas que jamais foi assumida
Por outro lado, o poeta ao falar da sua
Pensa livrar-se dela
E do mal que lhe aflige
Embalando-a ludicamente
Em palavras que inebriam
Assim a poesia sobrevive
Portanto o ato de escrever
Não visa criar uma emoção
Mas apenas despertar
Este sentimento adormecido
Que já existia em vosso coração!