Setenta anos.
O grande amor não virá.
Muito menos a pecúnia redentora.
Não virá o luxo nem a humildade perdida,
Com que sonhos inúteis se ocuparam.
O amigo verdadeiro será apenas passado,
E a boca ansiada, vazio e miragem
Na esquina não surgirá o inesperado
Na tarde estuante e confundida.
Mas, na “brumosa porta dos setenta”,
Ostento ainda um jeito de sonhar
Sabendo que nada significam
Ilusão irracional pelo vazio alimentada.
Todavia esperarei aqui entre os livros
O momento fadado para que me levante
Ou me separe de tudo que foi urdido
Pela incerteza do viver.