Uma negra feliz

Eu já fui a negra feliz

Meu corte Joãozinho

Tão crespo

E tão natural

Lavado a sabão de bola

Ou nem assim

Eu já fui a negra feliz

Meus olhos castanhos luzentes

A pele preta esfumaçada

E tão natural

Lavada a sabão de bola

Ou nem assim

Eu já fui a negra feliz

De lábios carnudos

Nariz arqueado nas abas

E tão natural

Por anos achando ser a cor apenas uma paleta de tons

Por anos sendo tratada pelos meus iguais de jeito desigual

De repente sem mais

Sem dia no tempo

Eu soube:

Sou negra!!!

E pelo meu cabelo

Em conjunto com a minha cor

E de tudo o que sou

Fui todo o tempo

julgada e sentenciada

Eu não poderia ter sido

Essa negra feliz

De posse da descoberta

Fiz da dor a minha luta

O combate a essa ideia

Estapafúrdia

De que uma negra não pode ser feliz

Marcela Cristiane
Enviado por Marcela Cristiane em 02/11/2023
Código do texto: T7923180
Classificação de conteúdo: seguro