MEMÓRIAS FADIGADAS

Aquele instante

aguardava-me

há muito tempo.

Tempos imemoráveis.

Maturou-se na espera,

destino dos que buscam.

A porta entreaberta

espreitava

a minha chegada.

Havia uma ansiedade

desejada, como aquela

do primeiro beijo

- de amor ou traição -

Logo fui avistado,

sentei e esperei.

À minha frente

uma orquídea branca

de folhas verdes reluzentes

insinuava o seu silêncio

plástico sobre uma estante

de madeira sem seiva.

Aquela beleza imóvel,

estética fotográfica

e morta,

levou-me ao amarelo

vívido e matizado

das orquídeas

que de ano em ano

florescem no meu jardim.

Como eterno transeunte

e estrangeiro contumaz

- de mim para mim

mesmo - aguardo

com um cansaço

esperançoso.

Na algibeira descansam

memórias fustigadas,

aguardando o reboliço

das revivescências

terapêuticas.

Rosalvo Abreu
Enviado por Rosalvo Abreu em 08/11/2023
Código do texto: T7927402
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