SEMEADURA

Rancores,

semeados na alma,

têm seu próprio modo

de se enraizarem.

Alguns,

feito ervas rasteiras,

contentam-se com um solo ralo,

farelento.

A mais leve brisa dispersa-os

para não se sabe onde.

Passam por nós

sem deixarem flor ou fruto.

Outros

buscam a umidade

de solos densos e profundos,

lançam raízes

que amam a treva e o silêncio.

Esses deixam-se ficar.

Crescem sem pressa,

fortalecem-se

em seu labirinto tentacular.

Com o tempo,

descobrimos em nós

duros desígnios

que não sabemos

quem plantou.

E das raízes tuberosas

emerge uma seiva grossa

para nutrir

uma flor sem perfume

e um fruto

que só conhece azedume.

James Melo
Enviado por James Melo em 07/12/2023
Código do texto: T7949294
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