SEMEADURA
Rancores,
semeados na alma,
têm seu próprio modo
de se enraizarem.
Alguns,
feito ervas rasteiras,
contentam-se com um solo ralo,
farelento.
A mais leve brisa dispersa-os
para não se sabe onde.
Passam por nós
sem deixarem flor ou fruto.
Outros
buscam a umidade
de solos densos e profundos,
lançam raízes
que amam a treva e o silêncio.
Esses deixam-se ficar.
Crescem sem pressa,
fortalecem-se
em seu labirinto tentacular.
Com o tempo,
descobrimos em nós
duros desígnios
que não sabemos
quem plantou.
E das raízes tuberosas
emerge uma seiva grossa
para nutrir
uma flor sem perfume
e um fruto
que só conhece azedume.