"Algo Sonhado"

Um círculo de fogo

rodopiou nos meus sonhos

Não era relâmpago (...)

raio bola ou estrela que cai

que sobe ou que assusta (!)

Era algo com sabor de saudade

algo meigo

provocando-me na alma

o remorso do "tardio

a soda da ausência

e o tártaro da vontade"

Era assim

como um grito ou um soluço reprimido

Alguém cuja língua fora decepada

tentando dizer : "Vem (!)"

E brotava-me uma agonizante

sensação de impotência

porque este círculo era sem nome

apenas gritava e girava velozmente

apossando-se da forma de um som

encerrado dentro de uma esfera líquida flutuante

E pensei (:)

"Meu Deus (!)

De onde veio isto

que me corrói o peito como uma oxidação (?)

Qual a cor dos olhos deste ser?

Terá a poesia como combustível esta nave (?)

Será um fio do tecido ligado ao céu (?)

Será um luto

um natal sem nada

um rio

um presságio (...)

alguém triste e com frio (...)

será um véu (?)

Ou é coisa que traz dia

alegria

estrela da manhã (...)

borboleta azul que ao meu sono

abranda e amacia (?)

Parece algo triste

parece nacos de esperança (!)

Mas (...)

também remete-me a um campo salpicado

por minúsculas flores vermelhas

ou quiçá

uma prece de criança

Não é triste (!)

Só preenche o

meu peito de vazio de vontade

e de segredos sobre a dor

Olhei novamente o céu sangrento do crepúsculo mas (...)

o círculo se foi para onde fogem todos os orgasmos

toda a pureza inerente à juventude

Migrou a "Coisa" para onde

vão todos os amores não vividos (!)

Desde então

sinto-me roubado

subtraído

abandonado num deserto

onde o preenchimento

é flor querendo se pintar (...)

borboleta voando pro alto-mar

E o que insiste

é o desejo de inquirir este "Algo"

e trêmulo indagar (:)

Quem tu és (?)

.